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Aleluia!!! Oxalá.

Hoje escrevo não como empresário, mas como um simples pai de 3 filhos, sendo um deles surdo de nascença, hoje com 36 anos de idade e formado em arquitetura.

Formar esse filho não foi tarefa fácil. As dificuldades iniciais para aprender a falar, superadas por uma imensa dedicação da mãe, o preconceito e o segregacionismo, estampados nos mais variados níveis, foram vencidos principalmente por contarmos com uma família maravilhosa e havermos, quando ele ainda era criança, nos associado a outros casais, com filhos igualmente surdos, criado com eles uma associação e brigado em grupo pela igualdade de condições e tratamento.

No início a maior dificuldade era conseguir escolas, pois mesmo algumas particulares, consideradas de alto nível, negavam matrícula assim que tomavam conhecimento da existência da perda auditiva. Aceitá-lo como aluno, entretanto, não eliminava outros empecilhos, como professores incapazes de se comunicar, ou de entender que pessoas diferentes têm necessidades diferentes. Ir à escola não era uma rotina apenas dos nossos filhos, mas também nossa. Essa situação, infelizmente, perdurou até a faculdade, por mais incrível que possa parecer.

Mas, ele se formou e hoje é um arquiteto com todas as ferramentas e conhecimentos que a profissão exige. Vitória? No campo pessoal, sem dúvida, mas no profissional, por enquanto, de Pirro.

Apesar de ser um cidadão de bem, honesto, capaz e dedicado, não encontra trabalho dentro de sua profissão, assim como quase todos os seus amigos (igualmente surdos e igualmente qualificados). Isso nada tem a ver com a crise que abate nosso país, mas com a cultura de exclusão que ainda permanece e posso afirmar que acomete com quase todas as pessoas portadoras de deficiência.

Mas por que não conseguem trabalho, se existe uma lei que obriga as empresas a contratar pessoas com deficiência? Coloco aqui um desafio: procure e veja se encontrará vagas para pessoas com deficiência e qualifidadas. Se existem, são raríssimas. Há muitas vagas, mas apenas para salários próximos ao mínimo, funções de menor importância e que não exigem sequer parte dos estudos a que ele se submeteu e que tanto sofreu para conseguir terminar.

Ontem, quando vi a primeira dama Michele Bolsonaro discursar em Libras (que é uma das línguas oficiais do Brasil), dizendo que cuidará para que as pessoas com deficiência possam crescer chorei copiosamente, assim como toda a nossa família. O mesmo ocorreu com as famílias de todos os amigos surdos de meu filho e até a intérprete, que traduzia o texto para o português, ficou com a voz embargada. Por que será?

Sinto, e acho que todos sentimos, que um novo tempo se aproxima, uma era de mais respeito e de oportunidades mais equalizadas, em que a competência seja julgada por si, não penas aparências ou fatores adjacentes, que em nada influenciam a performance.

Aleluia!! Oxalá isso de fato aconteça.

Sidney Porto, é empresário, presidente da Gerencial Brasil e Associado à ADCE-MG.

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