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ADCE, tarefas e desafios

“Dai-lhes Vós mesmos de comer” Lc 9,13.


Estamos a caminho do XXV Congresso Mundial da UNIAPAC e do 10º Seminário Internacional de Sustentabilidade, que acontecerá nos dias 30 de setembro, 1º e 2 de outubro de 2015, em Belo Horizonte. Temos diante de nós o tema: “Empresas, Governo e Sociedade Civil, trabalhando juntos para o Bem Comum”, como primeira provocação à nossa colaboração. É nesse contexto que este escrito se insere. O objetivo é refletir sobre a tarefa fundamental (e outras tarefas específicas), da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), em meio as turbulências da realidade social que vivemos. Não temos pretensão de oferecer um trabalho acabado. Apenas indicações, breves anotações que podem servir para iniciar o debate sobre a conjuntura atual numa perspectiva cristã.


  • Uma premissa importante: A Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa deseja acolher pessoas de todas as religiões, com um profundo compromisso ecumênico. O caminho trilhado pela ADCE está em sintonia com o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), composto por Igrejas que integram o grupo das assim chamadas Igrejas Históricas, que assumem o compromisso social, o servir como força transformadora da sociedade. É também desejável o envolvimento de membros das demais Igrejas, que não pertencem ao CONIC. Porém na prática essa presença é pequena, pois cada Igreja tem perspectivas teológicas bem diferentes. Por exemplo, no caso da ADCE a base teológica que sustenta a ação dos Adeceanos é inspirada na Doutrina Social da Igreja Católica, que se fundamenta nos Evangelhos e nos Documentos do Magistério Católico. Afirmar isso é importante porque existem outras associações de empresários cristãos, com fundamentos diferentes e que em sua maioria estão ligadas as Igrejas neo-pentecostais. Essas baseiam suas atividades na Teologia da Prosperidade, doutrina que encontra no enriquecimento financeiro o sinal da bênção de Deus e consequentemente desenvolvem uma prática cristã totalmente diferente daquela esperada na ADCE. Portanto, deve-se evitar a comparação entre as tarefas da ADCE com as experiências realizadas em ambientes empresariais por evangélicos neo-pentecostais.


  • Somos construtores do Reino de Deus ou “Meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho” Jo 5, 17.

O Magistério eclesial ensina que “melhorar as condições de vida, corresponde à vontade de Deus” (GS, n. 34); é serviço prestado à vida. Na verdade, “quando age, o homem não transforma apenas as coisas e a sociedade, mas realiza-se a si mesmo. Aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do que os bens externos que se possam conseguir. O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem. Mais recentemente, o Magistério eclesial também afirmou que “na beleza da criação, que é obra das mãos de Deus, resplandece o sentido do trabalho como participação de sua tarefa criadora e como serviço aos irmãos e irmãs. Jesus, ´o carpinteiro´ (Mc 6,3), dignificou o trabalho e o trabalhador e recorda que o trabalho não é um mero apêndice da vida, mas que constitui uma dimensão fundamental da existência do homem na terra, pela qual o homem e a mulher se realizam como seres humanos. O trabalho garante a dignidade e a liberdade do homem, e é provavelmente a chave essencial de toda a questão social” (DA, n. 120). Um dos documentos mais importantes do Magistério da Igreja que trata desse tema é a referida Encíclica Laborem Exercens, (LE), que chama a atenção para a contribuição do próprio Cristo como modelo, inspiração e espiritualização do mundo do trabalho. Pois Ele mesmo o exerceu silenciosamente no seu espaço familiar e social, usando-o como símbolo e conteúdo de pregação do Reino de Deus, e fazendo do próprio anúncio a sua experiência de trabalho. Também o apóstolo Paulo manteve o espírito de Jesus no seu modo de abordar a comunidade cristã do primeiro século, isto é, trabalho como meio de vida, como condição do exercício da caridade, como partilha e caminho concreto de profunda identificação com o próprio Deus (Cf. LE, n. 26). Esta identificação com Deus se dá desde o início quando ao criar o homem e a mulher, o Criador os botou no seu jardim. Era este o sinal da familiaridade com Deus. E lá Deus os colocou “para que o cultivasse e guardasse” (Gn 2,15). Logo, “o trabalho não é uma penalidade, mas sim a colaboração do homem e da mulher com Deus no aperfeiçoamento da criação visível” (Catecismo, n. 378).


  • Desenvolver um “Projeto Social Alternativo”: Essa é a grande tarefa da ADCE no contexto atual: identificar meios de equilibrar (conjugar), ética e economia, ou seja pensar um Projeto Social Alternativo. Como Igreja, cabe aos empresários cristãos influenciar a sociedade para que construa uma tecnologia que não destrua o planeta, que haja ações políticas de proteção do meio ambiente. Mesmo no interior da Igreja Católica temos que avançar unindo forças. As Pastorais sociais em suas diversas expressões, a presença dos religiosos dos institutos de vida consagrada, sobretudo inseridos nos meios populares são forças dinâmicas e que refletem o desejo de um projeto alternativo para o país e para o mundo. Investir em congressos, Assembléias, estudos e outras dinâmicas de avaliação, construção e intervenção na realidade é um processo tanto urgente quanto desafiador.


  • Tarefas específicas 4.1 Resgatar a história: Manter viva a consciência e a referência às ações pela promoção da vida no ambiente empresarial ao longo tempos. Identificar e refletir as teorias e práticas que nos antecederam. 4.2 Missão Crítico-construtiva: Tanto no que se refere ao nível eclesial como em sua abrangência ético-social a ADCE tem a tarefa de oferecer uma visão crítica da realidade. Em meio às graves contradições de nosso tempo a possibilidade de nos perder em análises superficiais sem mantêm como um risco constante. 4.3 Diálogo como tarefa: Dialogar com quem pensa diferente não é fácil e evitando desgastes é comum preferir o fechamento, a indiferença ao invés de estabelecer uma conversa franca. Nesse âmbito, como Igreja povo de Deus, os membros da ADCE devem estar em diálogo com o mundo, para o debate claro e propositivo. Os interlocutores são muitos, sobretudo com pessoas de outras religiões.

4.4 Práxis, a prática refletida: Refletir demais sem ação é apenas teorizar. Agir sem refletir é somente fazer sem possibilidade de entender o que está sendo feito. É por isso que falamos numa práxis (como ação refletida), que possibilita momentos fortes de intervenção fundamentada teoricamente na realidade vivida.


Devemos destacar a importância de que o pensamento econômico e social que será evidenciado no XXV Congresso Mundial da UNIAPAC e 10º Seminário Internacional de Sustentabilidade se coloque em relação com a doutrina social da Igreja, com os ensinamentos do Magistério atual da Igreja em sintonia com os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Terminando, devo deixar claro que tenho plena consciência de que essas reflexões são incipientes. O que me encoraja a propô-las é a certeza de que vale a pena tentar outros caminhos, novos paradigmas para a compreensão e ação cristã no ambiente empresarial. Enfim, esse foi um primeiro ensaio nessa direção.


Belo Horizonte, 6 de agosto de 2015. Festa da Transfiguração do Senhor

Assistente Eclesiástico da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa de Minas Gerais. (ADCE/MG). Especialista em Comunicação e Gestão Empresarial pela PUC Minas

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