Encíclica do Papa Francisco “Laudato si”
A UNIAPAC reconhece o forte apelo da nova Carta Encíclica “Laudato si” do Papa Francisco sobre sustentabilidade, a qual conclama os líderes empresariais, especialmente os cristãos para a ação.
Simone: A visão de uma “ecologia integral” é inédita e adequada para a atualidade
A União Internacional de Dirigentes Cristãos de Empresas (UNIAPAC) acolheu com entusiasmo as declarações sobre sustentabilidade, feitas pelo Papa Francisco na sua nova Carta Encíclica “Laudato si“. O Presidente da UNIAPAC Internacional, José María Simone (da Argentina) esclareceu: “O Papa fala não somente sobre ‘ecologia ambiental, econômica e social’, mas acrescenta uma quarta dimensão da sustentabilidade: ‘a ecologia cultural‘. De fato, me alegra muito o fato do Papa escrever a respeito de ‘uma ecologia integral que, por definição, não exclui os seres humanos e ainda exige que se leve em conta o valor subjetivo do trabalho‘ “.
O Papa Francisco faz um alerta na sua Carta ao considerar ‘o clima como um bem comum’ e chama a atenção para ‘as necessidades dos pobres, dos fracos e dos vulneráveis’. Simone salientou o fato de que o Papa demanda na sua Carta ‘dar prioridade ao objetivo de se prover acesso ao trabalho estável para todos’, e que ‘ajudar financeiramente os pobres deve ser sempre uma solução provisória em função das suas necessidades prementes, já que o objetivo mais amplo deve ser sempre permitir a eles ter uma vida digna por meio do trabalho’.
Simone denotou que o Pontífice opina que isto é imperativo ‘a fim de continuar gerando postos de trabalho de qualidade para promover uma economia, que favoreça a diversidade da produção e a criatividade empresarial. Este nível de desenvolvimento requer estabilidade e equidade quanto às regras do Estado de Direito, instituições confiáveis, abrangendo os poderes legislativo, judiciário e executivo, e um sistema educacional de excelência, que deve ser acessível para toda a sociedade‘.
“Como empresários, nos sentimos encorajados pelo Papa quando ele escreve: ‘Ser um líder empresarial é uma nobre vocação, direcionada para produzir riqueza e melhorar o nosso mundo. Eles podem ser uma frutífera fonte de prosperidade para as áreas nas quais operam, especialmente se eles enxergam a geração de postos de trabalho como uma parte essencial do seu serviço para o bem comum’”, explanou Simone. “Enquanto fornece à sociedade produtos e serviços bons e verdadeiramente necessários, fazendo uso da inovação e da tecnologia, o empresário poderá obter eficiência máxima dos recursos e do trabalho, conservar o meio ambiente e o clima, e ainda criar novos postos de trabalho. Mas não pode ser exigido que um empresário seja obrigado a criar mais postos de trabalho quando estes não são necessários para os produtos ou serviços que ele está oferecendo”.
Simone argumenta ainda que os mercados verdadeiramente livres, dentro de marcos regulatórios apropriados e corretamente regulados, podem contribuir para solucionar muitos problemas ambientais, ao invés de gerá-los.
O Presidente da UNIAPAC mostrou compreensão para a dura crítica do Papa sobre a ganância e a mera maximização de lucros como finalidade última dos negócios, e manifestou apreço quanto à opinião equilibrada sobre o desenvolvimento tecnológico: “O Papa nos convida ‘para que nos alegremos quanto a estes avanços e que sejamos estimulados pelas imensas possibilidades que eles continuam abrindo para a humanidade porque a ciência e a tecnologia são produtos maravilhosos da criatividade humana que é dom de Deus’.
Ao mesmo tempo, ele nos adverte para não seguir cegamente o ‘paradigma tecnológico e para buscar soluções não somente na tecnologia, mas na mudança de comportamento da humanidade’.
Falando ainda sobre as novas tecnologias, o Papa Francisco clama pela necessidade de aliá-las à cultura da ética e uma espiritualidade genuína capazes de estabelecer limites e criar a consciência das restrições humanas.
A UNIAPAC deu especiais boas-vindas para a chamada do Papa referente a ‘um modelo circular de produção que permite conservar os recursos para as gerações atuais e futuras, quando se limita, tanto quanto possível, o uso de recursos não renováveis, moderando o seu consumo, maximizando a sua utilização eficiente, reusando-os e reciclando-os.
A UNIAPAC aprecia a chamada do Papa ‘que somente quando os custos econômicos e sociais de se usar os recursos ambientais comuns são reconhecidos com transparência e arcados plenamente por aqueles que os incorreram, não por outras pessoas ou por gerações futuras, essas ações podem ser consideradas como sendo éticas’.. Simone explanou sobre isto: “É fundamental interiorizar os custos externos tanto na contabilidade empresarial como nas estatísticas nacionais de cada país”.
Considerando estes antecedentes, Simone comentou sobre a visão negativa da carta do Papa a respeito das negociações de créditos de carbono: “Na minha opinião, existe um consenso muito amplo que este mecanismo é uma maneira apropriada de interiorizar custos externos e uma contribuição para solucionar os desequilíbrios ambientais, logicamente se os créditos forem usados de maneira responsável, postura semelhante que se espera seja adotada para o uso dos recursos naturais”.
Simone também comentou sobre a opinião do Papa a respeito de que chegou o tempo para aceitar menor crescimento em algumas regiões do mundo a fim de se disponibilizar recursos para que outras áreas possam ter a experiência de um crescimento sadio’. Infelizmente, Simone manifestou, a implementação prática desta declaração pode gerar o efeito oposto daquele esperado.
“Baixo crescimento, nulo ou uma recessão na Europa ou nos Estados Unidos, definitivamente terá efeito adverso no crescimento de economias emergentes ou em desenvolvimento, onde a maioria das pessoas pobres vivem. Nós necessitamos de crescimento! Obviamente, nós precisamos de crescimento com o mínimo consumo de recursos naturais como for possível. E nós necessitamos de crescimento que seja inclusivo e que não exclua os pobres. Nós temos obrigação de dar dignidade aos pobres mediante trabalho decente, contribuindo para o desenvolvimento integral do ser humano”, Simone ressaltou.
O Presidente da UNIAPAC enfatizou: “Como líderes empresariais cristãos, nós aceitamos o chamamento do Papa para empenhar nossos maiores esforços, em todos os aspectos e abordagens ecológicas, sempre sob uma perspectiva social que deve levar em conta os direitos fundamentais dos pobres e dos menos privilegiados, pois sobre todo ativo privado existe uma dívida social a ser resgatada. A responsabilidade social empresarial centrada na pessoa é uma maneira muito efetiva para tratar este desafio dentro de uma economia de livre mercado e verdadeiramente competitiva. Nós damos especial reconhecimento para o objetivo da Encíclica, pois o que está em risco é a nossa própria dignidade e o desafio de entregar um planeta habitável para as futuras gerações é a nossa primeira e primordial responsabilidade, e isto só depende das nossas decisões e atitudes. ”
Simone explanou que estas declarações são somente os primeiros comentários e que a UNIAPAC realizará una reflexão mais profunda sobre a carta do Papa e publicará esta análise num futuro documento. José Maria Simone, presidente da UNIAPAC Internacional